sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Amor ao Clube



Mário Filho


“ Escolhe-se um clube como se escolhe uma mulher. Para toda vida ou até que Deus separe. É mais difícil deixar de amar a um clube do que a uma mulher. Qualquer um de nós conhece, de ouvir falar nem se fala, mas de conhecer mesmo, mais bígamos ou polígamos do que torcedores que mudaram de clube. Ou que o traíram, mesmo em pensamento. Talvez porque o clube nunca se entrega a um torcedor. O torcedor é que se entrega ao clube ou ao amor do clube (...) Geralmente se ama sem saber direito por quê. Tantos caminhos levam ao amor que é quase impossível apontar um como a rota dos descobridores. Isto é verdadeiro, tanto em relação a uma mulher quanto em relação a um clube. E mais uma relação a um clube do que a uma mulher, já que nenhuma mulher é tão variadamente amada como um clube. Nem mesmo uma Brigitte Bardot, mais desejada do que amada”.

Nélson Rodrigues

“Mas se não houvesse Fluminense era capaz de não haver Flamengo, a não ser o do remo, já que o de futebol nasceu do Fluminense. Onde eu queria chegar é que o futebol é um pretexto, como o amor, embora muita gente, porém não de futebol, ame o amor. Quem ama o futebol é jogador. Os que não jogam, os que ficam nas cadeiras, nas arquibancadas ou nas gerais, amam é um clube, uma camisa, uma bandeira. Por esse amor é que se identificam com um time, com o jogador que pega a bola, com o goleiro que se estica para evitar o gol.(...) É verdade que a emoção do futebol é para ser mostrada e gritada. Não há nenhuma razão para ocultá-la. Vai-se a um jogo justamente para soltar as emoções, para libertá-las, sem esconder nada. E aí não há Ministro do Supremo Tribunal, o que há é o torcedor, o homem que ama um clube e se entrega a ele, vivendo o destino dele num match. só que esse destino do clube num match é o destino do torcedor no match. não há como fugir dele"

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

PROCURA- SE UM EXORCISTA


Durante a pré- temporada, o que eu mais ouvi sobre o Flamengo, tanto do vice de futebol, Kléber Leite, quanto da imprensa esportiva carioca , era que o grande trunfo do rubro- negro para a temporada 2009 era a 'manutenção do elenco.'


Trocamos de treinador. Isso também era reconhecidamente um aspecto positivo.


Mas em seguida cometemos o grande erro. Associamos ' manutenção do elenco' à 'manutenção do esquema tático'.

O Flamengo de 2009 joga com o mesmo esquema do Joel Santana de 2007. São quatro cabeças de área, ,meu cumpadi! E isso pra encarar o Friburguense e o Bangu.


Até o Obama, que acabou de assumir e ainda está tomando ciência do que está acontecendo, sabe que se marcar o Léo Moura e o Juan, o Flamengo não joga.

E cá pra nós: Time que depende de dois laterais pra criar jogada ofensiva é muito esquisito. Contribuir é uma coisa. Ter essa responsabilidade, pra mim, é coisa de camisa 10. Eu sou do tempo de Zico, Maradona, Platini. Desculpa aí hein?


Assim como ele não escala o Paraíba no meio- campo, eu morro de medo do Cuca pegar o Zé Roberto e colocar pra fazer dupla de ataque com o Obina. E manter os quatro cabeças de área.


O problema é o ' Espírito do esquema do Natalino'.


Ele é um espírito sem luz que morreu de forma trágica no dia 7 de maio de 2008, no bairro do Maracanã, Rio de Janeiro.


Foi assassinado com 3 tiros. Um de Esqueda e dois tiros de um, como diria Moreira da Silva, 'bandoleiro transviado' de nome: Cabañas.


Foi um espírito que nos deu alegria em vida. Um título carioca, uma memorável arrancada no Brasileiro rumo a Libertadores.


Ele vaga pela Gávea querendo paz. Querendo luz. Querendo descanso.


Procuramos um exorcista que dê caminho a esse espírito. Que o encaminhe para o local de seu justo repouso.


Depois disso é bater folha, banho de descarrego e vamos à luta!


Afinal: BRASILEIRO É OBRIGAÇÃO!

O campeonato começou?

Ilustríssimos tricolores, tudo indica que neste início (?) de temporada teremos que fazer Jó invejar nossa fidalga paciência. Minha suspeita é que nosso Dr. Chapatin colocou em prática seus métodos e procedimentos jamaicanos, deixando os jogadores abobalhados e confusos no trato com a pelota. Para motivar o escrete, nosso querido coach deve colocar na vitrola seu disco do Bob Marley, tocando algo bem propício: War. Logo após explica, para delírio dos jogadores, a maldade do mundo e o quanto é feio tentar roubar alguma coisa do próximo, principalmente a bola (aqui Diguinho e Jaílton com certeza deram as mãos, compartilhando a vergonha de seus furtos passados). Maltratar e golear os mais fracos e indefesos é ter o passaporte negado para o encontro com Jah. Não é justo fazer sofrer um goleiro honesto e pai de família simplesmente pelo gozo efêmero e egoísta do grito de gol (foi provavelmente neste momento que os olhos de Roger e Leandro Amaral brilharam, refletindo sobre o vazio de suas vidas até agora). Chaleiras, lençóis, bicicletas e canetas são símbolos de desprezo pelo adversário e sua utilização deve ser evitada nos gramados. Este sentimento não deve ser cultivado no peito, pois ocupa o espaço que deveria ser tomado pelo amor universal (Conca deixa escorrer uma lágrima e balbucia algo no ouvido de leandro Domingues que, mesmo sem entender nada, acha que deve chorar também). Ir ao fundo é ser subserviente ao capitalismo e, consequentemente, ser cúmplice da exploração que faz sofrer tantas crianças na África. Acertar a cabeça dos amigos e companheiros de trabalho é injustificável (leandro e Welington Monteiro começam a ler um Salmo juntos). Nossa sorte foi que FH estava com seu mp3 em alto volume e não escutou nada.
Após tecer seus ilibados comentários e sentir que o espírito rastafari chegou ao ponto ideal, Dr. Chapatin tira do seu bolso uma frase de seu guia mentor espiritual indiano, com o sugestivo nome de Matabagana Navaranda: "A vitória é pra jah". Enquanto este "h" não sair fora e alguém trouxer de volta o acento agudo roubado (provavelmente por vascaínos na reforma da língua portuguesa) estaremos, literalmente, surfando na marola.


Fim da dúvida
Eduardo Paes, nosso Eliot Ness intocável, acabou com uma das maiores dúvidas que, de certo modo, nos consolava em alguns momentos no Maracanã. Torcida lotada, jogo fervendo, 45graus e vem, lá de cima, rodopiando e espirrando, bem espumado, um copo de chopp de 5ooml com um líquido amarelo. Ele explode nas suas costas e você pensa na hora: "é cerveja, tá tranquilo". Uma defesa sugestionada do organismo para que você possa assistir ao resto do jogo sem se enojar ou se sentir como um Q-odor preso no vaso. Agora meus caros, pra nosso desespero, acabou a dúvida: é mijo na certa.


Só uma pergunta
Vai ter cerveja no sambódromo em dia de carnaval???

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O Camarão e o Bacalhau na Seleção Brasileira

Pela primeira vez na história desse país, há uma seleção com apenas estrangeiros (ou seja, jogadores brasileiros atuando no exterior). Todos, do frangueiro Doni ao pereba Felipe Melo, jogam fora do Brasil. Até a Grécia, com uma História belíssima (em homenagem ao Alvito!), mas com um futebol deprimente, conta com um representante na seleta lista da seleção brasileira. Bem próximo está o dia em que haverá na Seleção BRASILEIRA (?) jogadores atuando no Uzbequistão, mas nenhum no Brasil. Acreditem, o dia está próximo. Com toda a certeza, o nosso (?) técnico não acompanhará o futebol uzbequistanês, não saberá se o jogador que brilha no futebol uzbequistanês há algum tempo estará bem ou mal, provavelmente, jamais terá assistido ao sicrano, apenas receberá a informação (sabe se lá de quem!) de que o sicrano que saiu do país aos 15 anos de idade, foi eleito o melhor jogador do portentoso futebol uzbequistanês. Repito: o dia está próximo.
Paremos de especular sobre o nebuloso futuro da Seleção Canarinho, e reflitamos sobre o já trágico presente. Na atual lista de Dunga, há a presença de craques incontestáveis como Kaká e Robinho; mas há também a incomoda presença de jogadores incontestavelmente ruins como Josué, Adriano (do Sevilla), Gilberto Silva e Felipe Mello. Afora isso, Adriano, da Inter de Milão, e Thiago Silva, do Milan, não foram convocados por seus méritos. Aquele está em eterna "recuperação", enquanto este ainda não entrou em campo no ano de 2009 (e não entrará tão cedo por questões burocráticas). Particularmente acho impossível que Dunga acompanhe o futebol grego. Então por qual razão Gilberto Silva é constantemente convocado? Chega a ser irritante que um jogador em plena decadência, enxotado a preço de banana pelo Arsenal seja reincidentemente convocado para uma das melhores seleções do mundo. Será que o futebol brasileiro anda tão mal das pernas que não possui ninguém melhor para a posição de volante do que Josué e Gilberto Silva? Será? O futebol brasileiro está às minguas, é verdade. Mas, talvez, em função da crise, muitos ótimos jogadores ficaram no Brasil. Cito: Alex, Nilmar, Hernanes, Ramires... A desculpa logística é, algumas vezes, aceita sem questionamentos: o amistoso entre Brasil será em Londres, e os jogadores brasileiros estão em início de temporada. Ora, em primeiro lugar há de se questionar a seguinte esquizofrenia: por que raios um jogo Brasil X Itália, em Londres, ocorrerrá no Emirates Stadium? Tudo bem, há uma "exigência" dos clubes, mas isso está se naturalizando a tal ponto, que parece (apenas parece) normal a Seleção Brasil jogar contra a italiana em LONDRES! Isso é loucura. Em segundo lugar, por que então a convocação de jogadores que estão relativamente parados (como os que atuam no Brasil!) como os que atuam no Campeonato Alemão (que parou dois meses para o inverno!) ou mesmo de Anderson e Thiago Silva que estão inativos por seus clubes? E como explicar o retorno de Adriano?
Por um outro lado, ainda mais esquizofrênica é a convocação de Felipe Melo, ou, se preferirem, o cabeça-de-bacalhau do meio-campo canarinho. Há quanto tempo ninguém vê um jogo do Felipe Melo? Dunga, certamente, ao acompanhar em uma noite de insônia o programa especial "Expresso da Bola" com Felipe Melo, que foi exibido recentemente. Aliás, foi bem logo após um "Expresso da Bola" com Afonso Alves, que Dunga resolveu convocá-lo para a Seleção. Dúvido que acompanhasse o futebol holandês, e o minúsculo Heereenveen. A salvação, portanto, é torcer para que haja um "Expresso da Bola" com bons jogadores com Lucas, Renato Augusto, Denílson (Arsenal). Já imaginaram se o programa ressuscita o "felizmente" esquecido Mineiro? De todas as explicações, a mais plausível para as convocações "cabeças-de -bacalhau" do nosso (?) técnico é a sua audiência ao programa. A triste verdade é que a própria Seleção vem se tornando cada vez mais uma Seleção Cabeça-de-Bacalhau por um técnico que tem na cabeça a mesma coisa que se tem na cabeça de um camarão. A explicação, por fim, é um silogismo básico: Dunga, o ex-cabeça-de-bagre convoca cabeças de bacalhau, com idéias de um camarão.

Jura, René? Nem imaginava...

Parece que o nosso inspetor Closeau anda lendo o blog...

Fluminense: 'Caímos em uma armadilha', diz René Simões
Plantão
Publicada em 26/01/2009 às 22h33m
O Globo e Lancepress

RIO - O técnico René Simões garante que viu pontos positivos na estreia do Fluminense no Campeonato Carioca apesar da derrota de 3 a 1 para a Cabofriense. Segundo o treinador, o Tricolor achou que ganharia a qualquer momento depois de uma forte pressão no início do jogo.
- Caímos em uma armadilha de que o jogo contra a Cabofriense seria fácil.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Choque de bagunça


Todos sabem que Mauricinho Paes prometeu um "choque de ordem". Agora resolveram atacar no Maraca, onde uma lei seca feita nas coxas proibiu a venda de cerveja nos bares ao redor do estádio e também pelos ambulantes. Eu e meu fiel escudeiro, Heitor Alvito, vamos à estréia do mais querido contra o poderoso Friburguense.
Uma rua antes de chegar ao Maraca, para quem vem caminhando pela escola técnica, logo depois do posto de gasolina, a primeira surpresa: uma kombi vendia tranquilamente uma cervejinha, ou duas, ou três, dependendo do freguês.
Encarando o maior do mundo, constatamos que Paes e seus asseclas haviam colocado uma belíssima cerca de metal (ver foto acima) separando as duas pistas em frente ao estádio. Muito inteligente. Imaginem um Fla x Flu lotado com dezenas de milhares de pessoas saindo do estádio , a guarda municipal correndo atrás de ambulantes oferecendo "dois latão por cinco", a Raça querendo bater na Jovem e vice-versa e aquela cerca ali. Vai ser uma beleza.
Afora esta bagunça, havia a mesma "ordem de sempre": bilheterias caóticas apinhadas de gente (ver 2a. foto, acima), 17 cambistas por metro quadrado te oferecendo ingresso "mais barato", arquibancada a R$30 pra ver uma pelada jogada em um gramado que foi abusado sexualmente pela Madona (ver 3a. foto, acima).
Quanto à partida, recomendo o VT aos casos incuráveis de insônia. Alguns jogadores merecem um breve comentário. Leonardo Moura passou 2008 inteiro sem fazer um cruzamento e parece que pretende manter a escrita em 2009. Marcelinho Paraíba continua um grande ex-jogador em atividade. Juan sonha com a seleção e pensa que é craque. Obina pode não ter comido acarajé como afirmou ao jornal do falecido Roberto Marinho, mas e o vatapá, e o caruru, e o bolinho de estudante? A grande contratação William é um brucutu que faz Toró parecer Di Stefano. De positivo só Ibson que pareceu em plena forma e muito disposto. Infelizmente disse em uma entrevista ser difícil agradar à torcida do Flamengo. Quase 35 mil pagantes em uma tarde ensolarada em que podíamos estar todos na praia (de graça e bebendo cerveja) e o cara reclama da torcida que cantou sem parar o jogo todo e não xingou ninguém. Vá catar coquinho, Ibson.
Na saída, milhares de guardas municipais pra reprimir os camelôs e nenhum para organizar o trânsito e o escoamento dos otários-torcedores que tinham que se virar em meio aos carros.
Bem-vindos ao Maracanã, "palco da final da Copa de 2014", informa a faixa na entrada. E até lá, dá-lhe repressão, choque disso e daquilo. Ordem que é bom, necas de pitibiribas ...

Cabofolia

Em toda a história da humanidade, todos que tentaram interromper uma festa popular foram depostos e sofreram as consequências de seus atos doutrinadores. Alheio a este ensinamento, o escrete tricolor enebriou-se com um gol de Diguinho logo aos 4 minutos do primeiro tempo e encheu-se de soberba, achando-se mais forte do que na realidade era. Ignorando a potência do ar puro e a vitalidade que sopra pelo vento nordeste da praia do Forte, sentiram-se em posição de ataque quando, na realidade, não passavam de presas indefesas em uma armadilha bem montada pelo esquadrão da região dos lagos.
Camuflados com as cores tricolores, confundiram e corroeram a defesa do Fluminense tal qual a maresia que acomete as ferragens da orla, produzindo jogadas rápidas e efetivas, sem desperdiçar as oportunidades que lhe apareciam. Foi assim aos 29 e 44 minutos, quando Ramon e Roberto marcaram e construíram a virada já no primeiro tempo do match, colocando os 11 reis completamente nus.
O intervalo poderia não ter existido. Ou melhor, poderia ter durado 19 horas que não alteraria em nada o desenrolar dos acontecimentos. Mesmo com as modificações feitas pelo comandante tricolor, uma espécie híbrida de filósofo de botequim disfarçado de inspetor Clouseau, o time já estava batido, entregue aos braços do destino. Seus últimos suspiros antes da serem ceifados pelas raízes jazem até agora nos braços do guarda metas Flávio, que realizou uma sequência espetacular de seguidas defesas, garantindo a continuação da folia por mais algumas horas. Natimortos e desenganados, os jogadores do Fluminense tiveram os aparelhos que os mantinham vivos desligados. Em um contra-ataque fulminante, com um a menos, Da Silva, aos 36 minutos do segundo tempo, puxou a tomada com requintes de crueldade, driblando o zagueiro e colocando de canhota à direita de um atônito Fernando Henrique.
Mas não se iludam, semeadores da desilusão e arautos do fim do mundo: lembrem que o pavilhão tricolor repousa nos braços de João de Deus e não nos templos da Renascer.

Operação bandeira 2
A polícia federal não pode lavar as mãos diante da fraude escandalosa ocorrida nesta tarde de domingo no Maracanã, assistida por mais de 30 mil testemunhas. Cabe investigação imediata do Sr. Luiz Antônio, bandeirinha rubro-negro, o único a ignorar uma “pequena” distância de 3,16 metros de legalidade do atacante do afanado Frizão. O difícil vai ser arrumar alguém pra depor.

Tragédia pouca é bobagem
Em São Januário, o Vasco manteve a regularidade do ano passado. Desse jeito periga o Eurico retornar em um andor, carregado por, no mínimo, 36 vascaínos dispostos a sustentar suas arrobas. Caixa D’água manda lembranças: disse-me, em carta a pouco psicografada, que o score lava sua alma e prova, de uma vez por todas, que nunca influenciou um resultado a favor do time campista. Está de malas prontas para o céu. O time do inferno está desconsolado com a saída repentina de seu principal dirigente. É melhor o Eurico fazer um check-up pois seu nome é pule de dez nas conversas ao redor do caldeirão de enxofre. Acredite, se quiser.

Dona do apito?

Amigos, assistia hoje ao novo clássico entre Bangu e Mesquita, com a idéia de escrever algum texto para o blog. O primeiro tempo foi uma grande "pelada". De destaque apenas as lamentáveis condições do majestoso Édson Passos, com seus vestiários alagados e seu gramado em péssima condição, e as inúmeras camisas do Chelsea na arquibancada, contrastando com a inexistência de camisas do Bangu e do Mesquita. De saco "cheio" da pelada, não resisti; passei rapidamente para o jogo do Botafogo, contra o saudoso Barreira. Outra "pelada", mas com um episódio interessante para a reflexão. Logo no comecinho do primeiro tempo, o lateral-direito Alessandro cabeceou uma bola em direção ao gol. A bola entrou por fora. O juiz Marcelo de Souza Pinto, contudo, validou o gol. No primeiro tempo, ele já havia se confundido diante da anulação de um gol legal do Boavista. Estava confuso, não sabia ao certo o que iria fazer. Foi ao assistente, que também estava em dúvida. O Quarto árbitro, essa figura curiosíssima, aproveitando-se da balbúrdia que se instaurara no glorioso estádio Bacaxá, perguntou ao repórter da televisão o que havia, de fato, sucedido! O repórter da Sportv, sem se questionar, afirmou de pronto que não havia sido gol! Rapidamente o quarto árbitro correu ao bandeirinha contando o que de fato aconteceu: não houve gol, a bola entrou por fora. O árbitro estava relutante em aceitar o gol (talvez pelo fato de estar prejudicando o Botafogo, time "médio", contra o minúsculo Boavista), conferiu a rede, em perfeitas condições, e, pela segunda vez, validou o gol. Incrédulo, o assistente o chamou, tomou para "si" a responsabilidade, e, finalmente, conseguiu convencer o árbitro a anular o gol. Posso, com certa facilidade, imaginar a conversa que ocorreu no Estádio Bacaxá:
- Não foi gol, disse o bandeirinha.
- Mas eu vi a bola entrando. Entrou por dentro, foi gol do Botafogo, diz o árbitro.
-Não, não foi. Vá checar a rede, veja se há algum buraco.
-Ok.
Passa um tempo, o árbitro, ainda incrédulo com o lance, retorna:
-Eu vi, não há buraco algum. É impossível ter entrado por fora, insiste o árbitro.
-Mas Marcelo, a tevê tá mostrando, o gol foi ilegal. Volta lá e anula cara!!! Tu vai fazer bobagem!, retruca o bandeira.
-Ah, é? A tevê está dizendo? O videotape não erra, né? Nao deve ter sido gol.
Pronto, estava anulado o gol. Estava anulado o gol graças à televisão. Há algum tempo atrás, em um jogo do campeonato alemão, (salvo engano envolvendo Bayern de Munique ou Borrussia Dortmund) houve um lance similar. A bola entrou por fora. O juiz validou o gol. O time prejudicado, porém, entrou com recurso e conseguiu a anulação da partida. A decisão foi à época bastante criticada pela FIFA e pela UEFA. Era a primeira vez (talvez a única) que o uso de videotape alterara o resultado de uma partida. Lá, porém, a decisão foi tomada por um tribunal. Aqui, a palavra de um repórter inexperiente e intrometido alterou significativamente o desenvolvimento do jogo entre Botafogo X Boavista. Felizmente, o gol foi anulado corretamente e a o Botafogo venceu a partida, o que, evidentemente, fará com o que o lance seja esquecido rapidamente. Nesse campeonato Carioca, há uma determinação da FERJ de que haverá uma espécie de observador do árbitro: um sujeito, assistindo ao jogo pela televisão, informará, no intervalo do jogo, como está a atuação do homem de preto. Dirá se está indo bem, o que ele deixou de marcar, etc. Mais perigoso ainda é a influência do repórter de campo no decorrer do jogo, como na partida de hoje. O que acontecerá se, por exemplo, um repórter fanático por seu clube tentar ludibriar o árbitro em um lance polêmico? Ademais, quantos são os lances de pura e simples interpretação, que os idiotas da objetividade se rasgam por dentro por não conseguirem explicar? Não bastasse a interferência direta nos horários dos jogos, na tabela do campeonato, a televisão parece agora querer apitar o jogo. Amigos, só resta sonhar com uma época em que não havia videotape. E imaginar se o atacante Valido empurrou (ou não) o zagueiro vascaíno no inesquecível primeiro tricampeonato do Mengão (42-43-44). Ah, não deve ter empurrado.

Colaboradores

Queria informar uma das grandes contratações deste blog, uma bomba bem maior que a chegada do Thiago Neves no fluzão pra garantir a dianteira na rivalidade com o Flamengo. O reforço atende pelo nome de Luiz Rocha mas, como em futebol nome não vale nada, é mero adereço, teremos aqui, a partir de hoje, os textos embasados e inteligentes de nosso artilheiro cdf, o grande ponta de lança do time do NEPESS (nosso grupo de estudos da UFF, invicto até hoje): seja bem vindo, Lugui. Ele ficará responsável pelos lances dos times pequenos, que já foram grandes, e que hoje vivem situações de penúria. Segue acima seu primeiro golaço.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Sala do pano

Em 17 de Abril de 1904 estava fundado o team do The Bangu Athletic Club, formado por técnicos de máquinas ingleses e operários brasileiros da então fábrica de tecidos Companhia Progresso Industrial do Brasil. Após uma remessa feita da Inglaterra de produtos para a fábrica foram encontradas, camufladas estrategicamente dentro de caixas, uma das primeiras bolas de foot-ball do Rio de Janeiro e alguns pares de chuteiras. O primeiro passo, o drible incial, já havia sido dado e, como consequência de qualquer um que tem uma bola em mãos, foi providenciado então o field que depois seria chamado por Ary Barroso como "a cancha encantada da rua Ferrer", de grama inglesa.
Em tempos de amadorismo, a montagem do time necessitava de certas estratégias pois, para atrair um bom jogador para defender seu escrete, se fazia mister oferecer um bom bicho, uma boa comida, algumas regalias e um bom emprego, não cessando nestes quesitos as possibilidades de atração. Caso contrário, um corpo mole ou uma febre repentina poderia acometer um jogador já vestido, na boca do túnel, a 10 minutos do início do match. Aos times considerados grandes isto era mais fácil, já que ofereciam, além dos melhores bichos, o Glamour de seus salões e o convívio com os hábitos "refinados" da elite que compunha seus quadros sociais. Já no caso do Bangu, assim como em outros times originários de fábricas, o que contava mesmo era um bom emprego em troca de um belo passe ou um gol de placa.
Mas o craque nunca foi bobo e também nunca foi de trabalhar. Apesar de não ganhar profissionalmente por isso, sabia de sua importância simbólica, tinha noção de que regalias seriam o mínimo para que suasse a camisa pela consagração do team. A Companhia Progresso Industrial sabia disso e, como barganha para a "contratação", dependendo do jogador, arrumava um emprego na fábrica em troca do seu "passe". Se jogasse pouco ia parar na sala de tintas, onde um simples descuido, uma simples gota na pele podia causar um belo estrago. Este tinha a falta descontada e era cobrado, ainda que em menor escala em relação aos que não participavam do time. Já os bons de bola, paparicados pelos donos da fábrica, eram colocados para "trabalhar" na sala de pano, o lugar mais almejado por todos os funcionários, pois era lá onde se menos suava, onde a labuta era mais leve, uma vez que a função do encarregado deste setor era somente dobrar os panos que chegavam lá já prontos. Ainda assim, era raro ver um jogador de destaque aparecer ao som do apito.
A sala do pano era o lugar reservado aos que faziam a diferença, ao imprescindíveis ao sucesso do time, aos que, na realidade, carregavam nas pernas o chamado às arquibancadas, árvores e morros das redondezas dos campos de futebol. Aqui vamos fazer a nossa própria sala, sempre que houver uma rodada onde algum time carioca entre em campo, seja ele considerado grande ou pequeno. A cada rodada vamos mandar alguém pra sala de pano e de tintas, a cada match vamos analisar de maneira passional os escudos e cores que movimentam nossas vidas em direção ao gol.
Enfim o ano vai começar...