domingo, 29 de março de 2009

Focinheira do Parreira e Guerra na UERJ

Fidalgos tricolores, bastaram 10 minutos e 10 jogadores para acabar com o Botafogo. Depois de um primeiro tempo pachorrento e sem graça, presenciei no maraca mais uma virada de nosso escrete, o que não é novidade. Mantendo a tática de dar um gol de vantagem aos times pequenos, pra dar emoção ao jogo, resolvemos a parada logo em seguida, como de costume. Contribuiu pra isso a saída do hidrante Roger, que devia desistir de praticar o futebol. Com a entrada da molecada de Xerém, o time ganhou novo ânimo e vitalidade, mesmo com um a menos devido a mais uma pixotada do insano Edcarlos.

O time já está ficando com a cara do Parreira. Bola de um lado para o outro com a valorização da sua posse. Só vai na boa, o que acaba acarretando muitos passes para o lado e falta de objetividade, o que irritou um pouco a torcida. Mas não podemos negar que o time está melhor distribuído em campo, com um esquema definido, o que já é um avanço. Agora, cá entre nós, não existe esquema no mundo que funcione com o Roger no ataque, convenhamos. Com a classificação garantida, é só recuperar o Fred esperar as semi-finais. Uma pena o Fla-Flu do dia 04/04 não valer nada, visto que os dois já estarão classificados. Perde o torcedor e o campeonato, infelizmente.

Guerra na UERJ

Prezados amigos, perdoem-me se me extender demais, mas creio que não tenho outra saída, tendo em vista a seriedade do assunto. Faço um relato do acontecido no lado de fora do maraca, pois lá estava. Caso não saibam, tivemos um combate com 5 feridos por pedradas, pauladas e tiros.

Após ter meu ingresso em mãos, fui para os bares da UERJ pra tomar uma gelada. Na volta, me deparei com o conflito. Torcedores da Fúria do Botafogo, contando com a colaboração da Jovem do Vasco, estavam na calçada do lado do Metrô. Em grande quantidade e ostentando suas armas, resolveram o seguinte: iriam invadir a área onde se reúnem as torcidas organizadas do Fluminense, em baixo da rampa que sai do metrô e dá direto na entrada do estádio. Integrantes da Força Flu premeditaram o ataque e foram de encontro à eles. Deu-se o embate. Membros da Fúria resolveram então começar a atirar na direção dos torcedores da Força Flu, o que causou pânico imediato. Jorrou o sangue e começaram a chegar os feridos, bem na minha frente.

O primeiro a ser trazido carregado tinha tomado um tiro na perna e sangrava horrores. Quando chegou pude ver de perto o estrago, sangue pra tudo que é lado. O segundo foi direto pro hospital: tomou uma paulada na cabeça e está em coma. O terceiro veio todo arrebentado, com respingos de sangue pelo corpo e semi-desmaiado. O quarto veio com a perna provavelmente fraturada. E assim se sucedeu, com torcedores das organizadas do Fluminense chegando capengando, carregados pelos colegas revoltados. Foi então que presenciei o seguinte diálogo, entre uma senhorinha e um troglodita da Força Flu que carregava um companheiro ferido no colo, ao mesmo tempo que xingava e jurava um membro da sua torcida que tinha corrido do confronto.

Senhorinha: porque vocês fizeram isso?
Troglodita: minha senhora, sou trabalhador, sou portuário, mas se não fosse a gente, todo mundo aqui tinha entrado na porrada. Se não fossem os brigões, todo mundo aqui tava perdido...

Já dentro do estádio, fiquei sabendo que o pessoal da Young Flu tinha feito uma "incursão" pra tirar o prejuízo. Não sei se é verdade nem se vai sair no jornal, mas estavam felizes por terem matado um botafoguense como resposta. Pelo comportamento, parecia ser verdade. Durante o segundo tempo, tentaram invadir o lado do Botafogo, o que causou uma série de pequenos tumultos na torcida, pois quando a polícia ia pra cima eles corriam e vinham em disparada pelas rampas de acesso às arquibancadas. Todos estavam preocupados com a saída.

Isso me fez pensar. Sou contra as carteirinhas, por uma série de razões que já estão aí. Mas o que fazer sobre esta situação? Todos os envolvidos eram de organizadas, sem exceção. Acabar com elas seria algo muito drástico? Seria isso exterminar os cantos e as festas típicas e tradicionais das torcidas? Difícil. Temos no Fluminense um exemplo, chamado de Legião Tricolor. Um grupo de torcedores que não pega ingresso com a diretoria, que criou a maioria das músicas que cantamos hoje e faz uma das festas mais bonitas do maraca. Organizada que não canta as músicas criadas por este grupo de torcedores está por fora. Creio que existe vida, e muita, além das organizadas. Na verdade, elas já estão à reboque, pelo menos no Flu.

Depois do que presenciei hoje, fica difícil achar que as organizadas devam existir. É claro que existe o perigo da generalização, mas creio que o futebol vive muito bem sem elas, assim como sem câmeras, sem lugar marcado e sem carteirinhas. Existe também o perigo de estigmatização mas, quem frequenta minimamente os estádios, sabe muito bem onde o coro come e a porca torce o rabo. É claro que existe briga que não tem organizada no meio, mas estas acabam com um deixa disso, em pouco tempo, e gera mais reclamações dos próprios torcedores do que propriamente o pânico dos conflitos entre as organizadas. Quer ir pro jogo, meu caro? Paga seu ingresso, coloca a camisa do seu time, pega seus instrumentos musicais e vai, com fé. Simples assim, como qualquer apaixonado.

Uma coisa que me intriga é a seguinte: se um sujeito joga uma pilha, uma havaiana ou uma garrafa de água no campo, o clube é punido, certo? Mas, se alguém, pode ser até o mesmo cara que mandou a havaiana no bandeirinha, mata à pauladas um torcedor rival dentro do mesmo estádio, o clube não sofre sanção alguma. Não seria o caso de responsabilizar o clube? Garanto que o cara ia pensar 100 vezes antes de partir pra agressão. Não podemos esquecer que quem mantêm as organizadas são os clubes, que colocam os ingressos nas suas mãos em troca de apoio nas eleições ou nas arquibancadas. Os clubes sabem que existem riscos mas, mesmo assim, garantem a entrada deles, são cúmplices que assistem o jogo dos camarotes, bem longe do tumulto que patrocinam.

Escrevo no calor do jogo, no impacto das cenas que vi bem de perto. Ponderações são bem-vindas e esperadas. Não acho que a solução sejam os "estádios-caixões" da Europa, mas aqui o "estádio-caixão" é sem metáfora. Creio que devemos pensar em um meio termo, nem tanto sem graça e pasteurizado, nem tanto com sangue e porrada a esmo. Admitir a existência da organizada com o argumento de que são elas as responsáveis pela diversidade e manutenção das tradições dos clubes é um erro, é menosprezar a capacidade dos demais torcedores.

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