terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Jamaica abaixo de zero


O Jamaica resolveu aderir à promessa do goleiro Bruno e prometeu não cortar o cabelo até o Flamengo se tornar campeão brasileiro ou ganhar algum título de expressão. Fiz uma projeção sua, aos 93 anos.
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Perdoem-me, fidalgos tricolores, pelo linguajar raivoso e sentido de nossos filhos. O animal acuado, sabendo que corre o risco de ser eliminado, ataca instintivamente, sem raciocinar. Entendam, não é culpa dele. Relevem o desespero e a insanidade de alguém que acredita que um time com Josiel, Obina e Zé Roberto pode ser campeão brasileiro. Um sujeito desse deve acreditar que, um dia, o Bush pode virar um intelectual ou que a Heloísa Helena pode se filiar ao DEM. Isso me dá motivos suficientes para crer que, aos 37 anos, ele ainda deve escrever carta pro Papai Noel e procurar, saltitante e serelepe, os ovinhos de páscoa escondidos pelo coelhinho que ele nunca achou. Nem nunca vai achar. Assim como o brasileiro nunca vai chegar. Não serei eu que contarei a verdade e estragarei sua alegria, longe de mim uma atitude dessa. Pra algumas pessoas, a ignorância é uma bênção.

Ainda que um dia grandes, há muito tempo atrás, eles vivem na esquizofrenia aguda de um passado outrora glorioso. Ser Flamengo é o que podemos dizer de uma pessoa que sofre de uma síndrome de Peter Pan futebolística, uma espécie de adulto que se recusa a crescer e vive eternamente no estádio da Terra do Nunca. Na boca de um flamenguista, "brasileiro é obrigação" deve ser entendido da mesma maneira que um "abaixo o capitalismo", "todo apoio aos povos da floresta" ou, "salvem as baleias": até gostariam que acontecesse, mas têm certeza que morrerão vendo os bancos lucrarem cada vez mais, os índios virarem adubo e as baleias servirem de entrada para os jantares chineses. O meu medo é começarem a amarrar bombas nas cinturas com a certeza de rumar para o paraíso, ou juntar todas as economias e dar de bandeja ao Bispo Macedo, só pra se livrar do encosto que faz beber e fumar, que acaba com sua vida financeira e sentimental. Eu tenho medo!

Pra minha tristeza, meu amigo jamaicano parece se respaldar nos números e datas para argumentar. Deve estar fazendo escola com o PVC ou o Mílton Neves e, daqui a pouco, vai relembrar o inesquecível time da Ferroviária de 36. Em tempos de supremacia do lado mercantil, ele se torna instrumento, sem perceber que, o que resgato, é a emoção do comentário, o sentimento do torcedor, com bom humor e ironia, sem nenhuma intenção de isenção ou neutralidade. Não se lê mais nada nos jornais sem que seja sobre contratos, esquemas, transações, datas e tantas outras coisas que qualquer burocrata com tempo pode se tornar doutor em dias. Meu amigo, deixe de lado o livro de estatísticas que você ganhou e deixe de ser um especialista em números, pois os matemáticos são sempre ignorantes. Samba e burocracia não combinam. Espero, com grande ansiedade, uma crônica sua de amor ao seu time. Até agora, só temos frieza, raiva e insanidade. E eu entendo: deve ser difícil acreditar em algo que sabemos que nunca vai se realizar...

Um comentário:

  1. O Bruno, que é um cara realista, acaba de cortar o cabelo. Depois de ser eliminado pelo time de metalúrgicos da Volks ele viu que seria impossível manter a promessa.

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