quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Vai falar o óbvio ululante...

Amigos, é a impressionante a quantidade de pessoas na terra que consegue ganhar a vida falando o óbvio e o ululante. No futebol, é astronômica a quantia. Não me refiro aos jogadores, óbvio, estes ganham a vida jogando bola, ululante. Falo daqueles que, obviamente, cronistas esportivos. Cronistas? O termo técnico em jornalismo esportivo parece cada vez mais apropriado. Os sujeitos que trabalham na crônica esportiva hoje não parecem gostar de futebol; eles não podem gostar de futebol, isso seria impossível. Vendo o programa "Linha de Passe" (o segundo melhor programa da T.V., em termos de comédia, depois de "Manhattan Conection") é abissal a diferença de qualidade entre os antigos e os novos: de um lado, o "mestre" Calazans, o Juca Kfouri, e o José Trajano; de outro, o PVC e o Mauro Cézar, de vez em quando aparece um tal de Arnaldo, sujeito, que como define Daiana Lima, parece ter um "ovo" na boca. O sujeito não fala; mastiga as palavras. Amigos, o cronista esportivo, aquele seguidor de Nelson e João, está morto, morto e enterrado. Não que eu queira (até gostaria, evidentemente). O técnico em jornalismo esportivo, personificação plena do idiota da objetividade, não pensa sobre o futebol, não comenta o futebol, não entende de futebol, não acha graça do futebol, não se diverte com o futebol. Acompanhando o processo de racionalização do mundo, o futebol se torna mais um elemento no mundo moderno a ser decifrado. E se entende o futebol, como se entendem as oscilações do mercado financeiro, com números, números e números. Os especialistas da bola cada vez mais tomam para si um conhecimento que antes era partilhado por todos os brasileiros: a compreensão do futebol. Já não se pode mais conversar sobre futebol nos botequins afora sem apresentar dados, números estatísticas. Apenas os iluminados podem falar aquilo que pensam e acham do velho esporte bretão. As conversas sobre futebol, meus caros, já não são mais como antigamente. Mas o que falam os iluminados? O que falam os iluminados, além do óbvio e o ululante. Ontem, em seu blog, Mauro Cézar Pereira falou e disse: o Brasil pode ser campeão mundial no ano que vem, na África do Sul. Oh!!! Fiquei espantado. Não acreditei quando eu li. Sim, meus amigos, ano que vem, na África do Sul, o Brasil pode ser Campeão Mundial. Sim, o Brasil "pode" ser Campeão Mundial. Eu vos pergunto, amigos, alguma vez, em 78 anos de existência da Jules Rimet, o Brasil "não pode" ser Campeão Mundial? Por alguma vez, não houve sequer a chance de disputa do título. O Brasil sempre chegou em Copas do Mundo com condições de vencer o título do Mundial, meu caro, então não me venha com seu óbvio ululante! Amigos, não satisfeito com tal post no blog do nosso amigo Pereira, fui ler os outros, com títulos igualmente interessantes: "Grande Gre-Nal foi além dos erros de arbitragem. Rivais estão fortes"; "Nos Estaduais um bom momento inicial pode significar muito, pouco ou nada no final"; "Muricy precisa, enfim, entender que as entrevistas fazem parte de sua rotina". No blog de seu colega, PVC, apenas o seguinte: "Os números de Felipão", "Os números de Palmeiras, o irrestível". Mais fácil foi encontrar as cotações do dólar e do euro, em seu blog, do que alguma coisa sobre futebol...
Amigos, uma pleiade de números, dados, informações, pesquisas não serve para nada quando o assunto é futebol. Mesmo os números, é verdade, podem nos ajudar a entender o futebol, acontece que não são por si só auto-explicativos. Cito: "A verdade é que todo dado quantitativo tem de ser analisado qualitativamente", Marcos Alvito. Caso contrário, complemento: vai falar o óbvio ululante...

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