sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Presente, passado e futuro!


O tempo adquire feições bem particulares no futebol. O professor Wisnik, da USP, afirma com razão que uma das características mágicas do velho esporte bretão é justamente a do tempo não-linear, ou seja, um tempo que não anda sempre para frente. A comparação com o basquete é a mais elucidativa: quanto uma equipe detém a bola laranja, ela precisa em 24 segundos finalizar a jogada. E quando um time rouba a bola, a contagem se inicia novamente, e uma vez mais os 24 segundos são intransponíveis. Já no futebol, a bola vai para frente e para trás, roda o campo todo, sua posse muda com freqüência, e o uso que um time faz do tempo também se altera, é acelerado se o time precisa ganhar, pode ser cadenciado para garantir um resultado.

A questão da posse de bola é determinante para o tempo. De fato, no futebol raramente a bola tem dono. Poucos são os times que conseguem se impor nesse quesito contra adversários de mesmo porte. A seleção espanhola é o melhor exemplo de sucesso em botar a bola de baixo do braço. Não é por acaso que os “ralis” no vôlei são os momentos de ápice emocional desse esporte, pois ao impedir o ataque adversário, a equipe passa a deter imediatamente a possibilidade se fazer o ponto. E também nesse vai e vem o futebol revoluciona, porque roubar a bola não significa necessariamente chance de gol. Os confrontos entre o Barcelona (base da seleção espanhola) e a Inter de Milão pela Liga dos Campeões demonstram que posse de bola não leva necessariamente à vitória.

Estou viajando nessa história do tempo por dois motivos. Primeiro, o tempo é peculiar no futebol não apenas dentro das quatro linhas. O Zico, por exemplo, nosso maior ídolo certamente representa um Passado de glórias para o Flamengo. Isso é inegável. Nesse momento, contudo, ele também é o Presente da nação, pois como diretor executivo de futebol tem a missão de fazer voltar vitórias no mesmo patamar atingido quando ele era jogador. Ou seja, ele é igualmente o Futuro do Mais Querido.

Eu nunca questionei o apoio integral que a maioria dos torcedores do Mengão conferem ao galinho. Ao contrário, partilho desta posição. Mas sempre questionei que era necessário sacrificar o presente – o atual brasileirão – em nome do futuro (saneamento das finanças, Centro de Treinamento, etc). As duas tarefas não são incompatíveis. Basta olhar para o time do Corinthians e ver que é possível disputar esse título.

Parece que o Artur mais vitorioso do mundo ouviu as minhas (e de outros milhões de rubro-negros) preces. Diogo e Deivid formam um ataque de respeito. Val Baiano e Leandro Amaral, um banco de reservas melhor do que o que tínhamos quando formos HEXA. Estamos abaixo, nesse ponto, apenas de Santos com Neymar e Keirrison, e do Flor com Fred e Emerson. Mas não do Flor com Washinton e Emerson por exemplo. Nosso meio pode não ter armadores como Conca, Deco, Ganso, Montilo, Giuliano, D’Alessandro, Bruno César, etc. Mas temos ainda o PET, que mesmo com 37 anos ainda é melhor que muita gente por aí, que auxiliado por Willians e Renato, protegidos por Correa, Maldonado, Toró, enfim, compõe certamente um meio campo dos mais completos do Brasil. Por fim nossa defesa não deixa nada a desejar a nenhuma outra do Brasileirão. O fato é que não temos craques nessa posição jogando aqui no Brasil. E nossos laterais dispensam comentários.

Eis então que chegamos ao segundo motivo para abordar o assunto Tempo nesse texto: Rogério Lourenço. Com ele, não há presente nesse ano. Fomos dominados pelo Ceará em pleno maraca na rodada passada. 65% de posse de bola pros conterrâneos do meu pai, que ainda deram 16 chutes contra a nossa meta, enquanto nós finalizamos apenas 5 vezes. Somos o time que mais rouba bola no campeonato, mais também o que mais erra passes. Ou seja, levamos a magia descrita por Wisnik para um paradoxo. Com esse treinador, o tempo não linear do futebol é um instrumento para que o Zero não saia do placar. E é sabido que estas estatísticas que apresentei não tem nada a ver com dupla de ataque, mas sim com postura em campo, com um professor que não consegue dar um padrão de jogo condizente com as mais vistosas tradições da Gávea.

Mas enfim, Zico não falhará em atender também esse pedido. E enquanto os reforços não estréiam e esse técnico não cai, vamos no domingo ver mais uma pelada de respeito, daquelas em que o tempo poderia parar que o gol não sairia.

Saudações Rubro-Negras.

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