segunda-feira, 12 de abril de 2010

No treino do Barcelona

Estamos no início ano de 1982. Zico, Platini e Rummenigge são as estrelas-guias do futebol mundial. Todos, à exceção de Michel que estava em vias de se transferir para a Juventus, ainda atuavam em clubes nos seus respectivos países natais. Zico, no Flamengo, Rummenigge no Bayern de Munique e Platini, no Saint-Etienne. Quem era o melhor do mundo? Qual era a melhor seleção do mundo? Sabiam sobre Zico os ingleses do Liverpool, melhores da Europa, que no ano anterior haviam levado um 'sapeca-ia-iá' rubro-negro. Mas, no mundo que existe para além do saber dos especialistas, saberiam os alemães do Bayern, que não possuiam televisão a cabo, quem era Michel e, muito menos, quem era Zico? Era preciso esperar a Copa do Mundo para que os grandes se encontrassem.
Para o bem ou para o mal, sem dúvida, em 1982, é, provavelmente, a última Copa romântica. Foi, quase que certamente, a Copa em que as estrelas dos países, atuavam, propriamente, nos seus países. Logo na seqüência Rumenigge, Zico, e o próprio Platini, todos migraram para o El Dorado do final dos anos 1980, que foi o futebol italiano (hoje, em absoluta crise). Naqueles anos na terra da Bota, desfilaram Gullit, Maradona, Platini, Laudrup e tantos outros craques. O futebol italiano, e o mundo, já não sao mais os mesmos e hoje a terra prometida do futebol mundial parece ser uma Ilha a Oeste do Velho continente, com seu supersupercampeonato: a English Premier. Lá, Fabregas, Rooney, Robinho, Tevez, Ballack desfilam sua graça e talento dentro de campo (e na televisão) a cada final de semana. E a cada final de semana o mundo, via satélite, pode deliciar-se com Rooney, ou com Niño Torres, ou com o jogador favorito de cada um. Mas é na Europa Champions League que os "grandes se encontram". Os melhores e os maiores (não há dúvida disso) jogadores estão lá. E se encontram todo ano, em Chelsea X Inter, Barça X Man. Utd, Real Madrid X Bayern. Veja você que os cinco melhores jogadores do mundo (Kaká, Messi, Xavi, Iniesta e Cristiano Ronaldo) em atividade jogam entre si, por pelo menos, duas vezes por temporada. Ou diariamente, no treino do Barcelona...
Por outro lado, a Copa já não tem o glamour de outrora. É uma competição inchada. Quase o Campeonato Carioca. Veja você o Brasil jogará com Coréia do Norte; Itália com Eslováquia e Nova Zelândia; e por aí vai... Além do que, os jogadores principais chegam à Copa estourados, depois da fatigante temporada no futebol europeu, se não é, por exemplo, o caso de Zinedine Zidane em 2002, ou de Ronaldinho Gaúcho em 2006. O pouco tempo hábil de preparação para Copa acaba proporcionando isso. Antigamente, no ano de 1982, Zico precisava ir bem na Copa para provar seu valor. Assim também Rummenigge e Platini. E jogar bem não significa apenas vencer. É verdade que muitos grandes não ganharam uma Copa do Mundo, mas jogaram bem. Stoichkov, Cruyff, Lineker, Puskas, Gazza. Ganhar não é um elemento diacrítico de forma alguma. Era preciso jogar bem e ponto. A Copa era o momento raro no futebol mundial em que "os grandes se encontravam"; em que os melhores jogadores, em suas seleções, tinham a oportunidade de estar cara-a-cara. E eles tinham tempo para treinar. Treinavam muito. A Holanda, máquina de 1974, treinou quase que incessantemente para a Copa durante três meses. Hoje a Copa é uma competição inchada, espremida no calendário europeu. O parco tempo de preparação para Copa permite que as equipes desenvolvam um fraco entrosamento e tempo inábil de recuperaçao física de atletas lesionados. Então, será ainda verdadeira a máxima de que "Para ser uma lenda no futebol mundial, é preciso jogar bem uma Copa?" Amigos, lamento informar este aforisma atualmente está absolutamente demolido. Para jogar bem no futebol mundial e se tornar uma verdadeira lenda do futebol, é preciso jogar bem o treino do Barcelona. Reservas contra titulares.

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